quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ah! esse lugar avesso ao sentimento


Paul Klee "Ar líquido" 1934


Ah! esse lugar avesso ao sentimento
que conduz os passos sobre o frio
durante o dia
quando cobre o corpo de escamas e de deslizes
desviando as águas e o desejo
em vagas de indiferença distraída –

Suponho que nas cidades, se possível
percorrer as calçadas, os grandes obstáculos
sentidos sob a forma de orientações técnicas;
satélites complexos, enviados sinais, invisíveis,
seria preferível a vista imensa, lá em cima,
o sol e a lua, o azul e o veludo, em alguns momentos
- porque nada dura mais que o tempo escrito
o qual não sabemos, desconhecido –

seria preferível a vista imensa
em encantamento, de ombros direitos
ao ângulo obtuso de olhos dirigidos
levando a resistência de um corpo sensível
subindo, subindo, em espírito
e esquecendo o mundo partido
e a noz que esmaga
os muitos círculos de labirintos.


Ah! esse lugar avesso ao sentimento
mesmo que de pequeníssimos minutos
em fuga desnecessária, porque incompleta
em vazio, em contemplação, recria o hímen
ressoa o sussurro e abre o escudo, reforça a armadura
quando de súbito, se retoma o ponto de partida

Ah! e o sentimento por vezes
suponho que nos mata

e depois de novo –

Num monumento à aspirina


Joana Vasconcelos " Sofá Aspirina "

Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis da meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia.

Convergem: a aparência e os efeitos
da lente do comprimido de aspirina:
o acabamento esmerado desse cristal,
polido a esmeril e repolido a lima,
prefigura o clima onde ele faz viver
e o cartesiano de tudo nesse clima.
De outro lado, porque lente interna,
de uso interno, por detrás da retina,
não serve exclusivamente para o olho
a lente, ou o comprimido de aspirina:
ela reenfoca, para o corpo inteiro,
o borroso de ao redor, e o reafina.

João Cabral de Melo Neto "A educação pela pedra" (1966)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

História sem importância

Fui esquecida, tão simplesmente isso. Enquanto, não há problemas no paraíso.
E sem notícias, também fiz de conta que não se despedia. Foi a única vez que fiz de conta, para não dar explicações, ou perguntar-lhe, achas mesmo que não arranjaria maneira de nunca chegares aqui?
Também não me apetece discutir sobre a vida não ser linear, quando o que interessava mesmo, era eu nem tentar decifrar mentiras.
Podia dizer, ok, faço a vontade a toda a gente, e pensar noutra coisa, mas não digo nada.
É tão simples quanto isso, deixei, fui depois esquecida, e é tão simples quanto isso para ele.
Se calhar apetecia-me contar uma história... A história de uma mulher que rouba uma jóia e pensa que, da mesma maneira que a roubou, alguém a pode roubar outra vez. Há uma desconhecida que passa, e só lhe interessam coisas com valor sentimental. Nem mesmo a mulher desesperada, nem mesmo que a jóia não fosse posse, poderiam uma coisa e outra entender, ofuscados pelo brilho mas na sombra.
Há um letreiro na entrada de um prédio por onde a desconhecida passa, posse = amor. Na porta ela escreve Posse = Posse, e como não lhe interessam contas, também escreve, Liberdade é o primeiro passo, sabe quem ama..
E a desconhecida foi para longe, não por lhe parecer que incomodava, estava apenas cansada de acreditar nos homens, outra vez!

Auto-retrato com fantasmas e mamíferos



Eu e tu: o resto são fantasmas. Fábricas de lençóis aflitos. Empresas inadequadas ao mundo visível. A disfunção eréctil da promessa de aparição.
A sociedade aquosa e secreta dos fantasmas. Espécie de produto catabólico do omisso, que é o distintivo do amor e a pistola impalpável do mortal, que por mais amar o próximo se tornou efectivamente longínquo.

A casa deserta, continuamente adiada, sem episódios de maior relevo ou directrizes. Horas mais que malignas escoam do espaço interior a sua manutenção inevitável. A invertebrada mobília da noite. Os moluscos da insónia. A escuridão adesiva. O silêncio adesivo. A música da água morta nas canalizações. Passos imperceptíveis, dados em falso num plano sem gravidade nem resolução.
Tudo parece evitar-se a custos baixíssimos. Um aquário cheio de instantes destruídos, adaptados entretanto com as guelras da memória vã.

Eu e tu, dois mamíferos elegantemente despidos, maravilhados com as suas imperfeições ideais.
A luz da Lua que atravessa o postigo e descola imagens e desloca olhares. Técnicas nulas e mistas para acender a audácia, para ascender à audácia, como se estivéssemos mergulhados na pré-historia do ânimo e do aviso, no futuro trémulo da hesitação.
E no entanto, passeiam-se à nossa volta as formas plenas da desobediência em lingerie, influentes flores do interlúdio, os dejectos delicados da insensatez que já não nos assustam com a sua epilepsia de província.

por tudo aquilo que ofertas desviado do humano




por tudo aquilo que ofertas desviado do humano
não reconheço margens nem limites –
abres as raízes em crescimento dentro de um rio
rodeada de líquen, itinerante e vaga
de olhos agudos e sensoriais retinas
na mistura de músicas e distintas melancolias –

e em cada dia que termina, conforme os quartos da Lua
mudas e mergulhas e vês o Mundo
na dilatada iluminação de íris e pupilas -

e iluminas -

terça-feira, 28 de setembro de 2010

discursos de sobrevivência


Paul Klee


anunciado o fim de Estio
a vindima e a recolha apressada de últimos frutos.
alguns dos figos caíram. espalhados.

tal o estendido calor
que não faz qualquer sentido acreditar o calendário
o encurtar dos dias, a movimentação tardia
de um Sol à procura da noite
cedo, a cedência das estrelas, o ocaso –

quase no fim de Setembro – o Outono
o lobo seco – este ano sendo
um cordeiro de pés de lã, lento
e paciente, de passos pequenos
um relógio manual
em atrasos
um sino adormecido
visível, na longitude longa de superfícies.

e a planície fingida como um trapo onde se notam vincos
a necessidade abrupta de dificuldades, sílicas
uma chuva de quartzos
e na mesma linha em contraste
além, do lado esquerdo
os espaços onde ainda as cores
breves, no nascimento de amarelos
e azuis , misturados, amores perfeitos, águas
cataratas a quebrar fronteiras, tensões
falíveis, de corpo e esconderijos emotivos –

o fim do solstício unido de enigmas
indeterminado no suposto possível
na surpreendente e particular ânsia
de absoluta revolta de espírito –

e não conseguir avançar. ver . ver o horizonte
a segurar num cordame de sisal, o veleiro, no mar alto
onde as gaivotas em discursos de sobrevivência
porque os ventos, os sopros e os silêncios
permanecem como os climas, suspensos
de fios de nylon, alinhavados de alterações
intemperados, excessivos e plenos
de fermentos
apontando conforme as ordens excelsas
azuis e aéreas
um porto de abrigo
ou as fragas, nas ondas do tumulto, carregadas de lapas
e altos murmúrios nas casas habitadas dos búzios;

perigos, marítimos, perigos
a gravidade escorregadia das algas
o naufrágio –

ignorar a desordem não é construir a paz interior e luminosa.
nas artérias cheias há ausências, ausências mudas, surdas
e o corpo é um planador de folhas secas
rasgando a atmosfera circundante de ruídos
em queda que ensombra as gravilhas –

quem procura a memória fácil quebra o aro encantado.
cego e sem recompensa
arrasta a âncora e mantêm a distância.

está atento, suporta a dor, aceita a queimadura
abre o peito e o flanco para quando
em fragmentos, a hora aberta e as romãs

não te descuides na rigidez –

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Inebriada de Ar - eu sou


Toulouse Lautrec "La toilette" 1889

Provo bebida jamais fermentada –
De Canecas em Pérola esculpidas –
Nem os Tonéis todos que há no Reno
Conseguem produzir um Álcool tal!

Inebriada de Ar – eu sou –
E Devassa de Orvalho –
Tonta – em dias de Verão que nunca findam –
Saindo de tabernas de Azul da Cor do céu –

Quando os «Taberneiros» expulsarem
Da Dedaleira a Abelha embriagada –
E as Borboletas – seu «trago» recusarem –
Hei-de beber e beber sem parar!

Até que os Serafins acenem os Chapéus de neve
E os Santos todos – corram as janelas –
Para verem a pequena Ébria
Escorando-se no – Sol –

Emily Dickinson "Cem poemas" Relógio d'Água Trad. Ana Luísa Amaral

sim,é um livro



sim, é um livro, não mais de que um livro
dos que saem de oferta num jornal
a história de um sonho
no dia certo, sem tempo marcado.
um livro. não mais de que um livro
de capas pobres e folhas enceradas
um pouco brihantes, mal coladas

mas o que interessa são as palavras –

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

basta que te dispas até doeres todo


Salvador Dali " A alegoria da Primavera" 1978


basta que te dispas até doeres todo
retoma-te no tocado, no aceso,
e fica cego e,
por memória do tacto, desfaz os nós,
muitos, muito
atados uns nos outros,
e que inteiramente te alcance o ar e,
depois de te haver abraçado de alto a baixo, apareça já
inextricável, ar
falado, a fino ouvido: cacofónico,
mas de um modo exacto, acho,
música inquieta, inconjunta, impura,
isso: essa música

Herberto Helder “ A faca não corta o fogo” Assírio & Alvim 2008

sal ou magma





fecha os olhos cansados e permanentes
e imagina as penas, as gotas e os aparos
a mente de quem escreve, em voz alta
a aconchegar frases, as metáforas,
a pontuá-las: lentas, rápidas ou graves
dentro da tua casa, uma gaveta de letras,
segredos de psicanálise.

mantêm os olhos fechados, aguenta, não os abras
que importa a hora, a retaguarda do mundo
se para ser apreendido, despedido do inútil
reconvertido em densidade, precisa muitíssimo
do livro, do poema, da palavra;
a caligrafia hormonal de uma carta
de rumo, bússola que interage.

abre agora a vista. faz o hiato. pousa o livro
sobre a secretária. repara nas linhas das folhas
que se fecham. a marca. vais a meio.
nem tu nem o livro existem na mesma quantidade.

quando sedentário e táctil descansar na prateleira
não será igual a tantos outros
e nem sequer saberás até que ponto
se inscreveu na alma

sal ou magma de diamante claro -

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

não conseguir acordar a inconsciência - seguir o rio


Cartas de Albert Einstein a Margarita

a pouca luz anterior de um fim de tarde
onde rolaram rostos vagos de cidade
trajectos de passos sucessivos ao lado das estradas
nos passeios, nas paragens, sem mistério
cronometrados.

o quiosque – o maço de tabaco, o diário
o café ocasional – as vozes dispersas em argolas
o almoço chinês – asas de pássaro e dificuldades
o banco – véus de números e sorrisos de contabilidade
a reunião fleumática – garças altas e nós de gravatas
o trabalho – folhas A4 e conversas fechadas
o supermercado – iogurtes, chocolate e congelados.

a pouca luz interior de um fim de tarde no hall,
na entrada. a correspondência aguarda.
nada de envelopes quadrados, postais,
letras sem computadores, caligrafias de aparo
ouros raros, há quanto tempo não escreves uma carta?

sem hesitar esqueceu as roupas em qualquer lado
no suporte da banheira, na esfera do porta toalhas
na cadeira mais pequena, nas costas do sofá
onde água, uma gota de água desliza e perde densidade.

sem mais que a parte de baixo, deitou-se gasto
de olhos rasgados e húmidos como Rubens, um dia
em Madrid, no museu do Prado, uma tela a óleo
um quadro, onde as peles claras, os penteados
não lembra bem, não interessa, já não sabe.

deitou-se cedo sem cumprir horários
muito perto daquele outro corpo deitado;
um campo de searas no Alentejo longe
onde a dança solta de aves no céu
onde os ninhos de cegonha, as espigas
agudas e risonhas.

não conseguiu acordar a inconsciência.
de olhos abertos como um mocho, mas sentado,
pensou nos jardins escondidos do Palácio.

a mão como um navio desceu do joelho
ao ângulo do ilíaco, passou o diafragma
até ao oriente oposto e diagonal de um ombro.
repetiu o gesto como quem completa uma oração
as mãos, as costelas flutuantes, passando
ao oposto ombro, diafragma, coração.
a cruzada dos braços e os sons do rádio
na hora das notícias. não interessa. não interessa.


obscura a luz do quarto e as duas almofadas
dunas brancas de algodão, anatómicas em socalco.
os lábios entreabertos, entrada sibilante
de uma ilha sem continentes, um lugar de silêncios;
porque não escreveste?
a alma sem asas, em arco, em queda.

apenas e agora a música cardíaca –
como a pedra grande expandindo os círculos,
a música – uma valsa longa e longínqua
nas margens nocturnas do Danúbio.

de madrugada o astro enviou os raios, miríades,
e as pálpebras já tontas encostaram os remos
e seguiram o rio –

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sala de pequenas cirurgias




Há sempre uma infecção no insondado que atrai as multidões e faz um brinde com a nossa serenidade adolescente e míope. E é possível ver-se daqui o insondado - e a sua capital a arder – e mais não fazer do que a descrição atormentada do obstáculo da vida, entre mim e o insondado, entre dois tempos rivais mas reconhecíveis na pestilência do séquito, no inferno dos seus desejos sem sentido e sem vez, na trágica pulsação de ninguém. Nus e dirimidos.
Mais não fazer, ou fazer tudo talvez para que o insondado permaneça insondado, contraindo assim o vírus da timidez tipo 1,
a gripe dos diminuídos por sua própria conta e risco,
uma hérnia no dizer
e um cancro no único pulmão da iniciativa.

O último prognóstico era muito reservado também
e recusou-se a prestar quaisquer depoimentos
aos jornalistas.

aquela parábola de um livro de Jacob




aquela parábola de um livro de Jacob
por um prato de lentilhas Esaú
guloso ou faminto ou exausto
ou simplesmente na condição de um nome
exemplo no tempo e no espaço.

na essência do caso debruço-me no abismo
e imagino o cansaço os trajes gastos
só as poeiras na cor das sandálias.

os olhos azuis e estrábicos
talvez um cajado um encosto
um suporte de músculos mártires
e o aroma ondulante cinzelado e curvo
pelo ar como uma serpente
vem. vem. vem. o alimento.

pois e se e talvez antes do pai a morte.

na mais completa sedução Jacob
de colher de pau . provando.
saboreando. de novo sorvendo.
olhos vermelhos e inflamados
falas de diabo e ausências de remorso
desculpando a culpa aceitando toda a justiça
de uma mais que aceitável troca . que bom!

um prato de lentilhas mil moedas para um faminto.


de qualquer forma estava predestinado
talvez os astros pois sonhou anteriormente
de voltas e revoltas nos sonos encobertos
primogénito. primogénito. primogénito.
um dia. um dia. um dia.

o alcance egoísta o objecto a coisa o material
e não será concerteza um só caso singular
tantas e tantas vezes por um prato de lentilhas
se atiram os sonhos longe muito longe

como pérolas ao mar –

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Arco Iris





A veces
por supuesto
usted sonríe
y no importa lo linda
o lo fea
lo vieja
o lo joven
lo mucho
o lo poco
que usted realmente
sea

sonríe
cual si fuese
una revelación
y su sonrisa anula
todas las anteriores
caducan al instante
sus rostros como máscaras
sus ojos duros
frágiles
como espejos en óvalo
su boca de morder
su mentón de capricho
sus pómulos fragantes
sus párpados
su miedo

sonríe
y usted nace
asume el mundo
mira
sin mirar
indefensa
desnuda
transparente

y a lo mejor
si la sonrisa viene
de muy
de muy adentro
usted puede llorar
sencillamente
sin desgarrarse
sin deseperarse
sin convocar la muerte
ni sentirse vacía

llorar
sólo llorar

entonces su sonrisa
si todavia existe
se vuelve un arco iris.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

incorporal e ausente


Robert Doisneau


passei por elas sem nada dizer.
não corria a mais pequena aragem.
era meio dia e escaldava a hora.
a hora escondia a sombra.

não sei de quem a culpa o pecado
desta intimidade assim ferida
se assente estava que sempre
sempre que por elas passasse
falaria e elas as árvores comigo.

mas distraído de cabeça leve
em ramo mais alto e invisível
- para além das ceras caídas que um dia
as asas e o céu e o sol em suma a mitologia -
subia longe num sonho muito além desta terra
de cascalho e pós e folhas em suma naturezas
sem textura tão sem importância se naquele instante
apenas o rosto e a voz e o corpo em suma o desejo
fazia esquecer de transparente o matiz apreciado
da pele de uma árvore grande e larga e alta – o plátano
e de por ela passar e outras que não consigo recordar
sem nada dizer se estava assente que sempre
sempre que por elas passasse
falaria e elas as árvores comigo.

lembro-me de não ser e não pertencer
a qualquer mar ou continente
alucinado de sentir naquele estado
todo o excesso e a possibilidade
de sermos
sem paredes de silêncio e incerteza de sinais
sem calçados de couro e tecidos desiguais
anjos de branco anjos de branco
abstractos e sem tempo
de ser gente e ser mortal –

distraído na mais complexa e inédita metafísica
de reinventar a lua como casa
e dança e música e literatura -

distraído naquele estado incorporal e ausente de
esquecer as árvores e de nada dizer
apesar de assente que sempre
sempre que por elas passasse
falaria e elas as árvores comigo –

domingo, 19 de setembro de 2010

Invictus ( o poema que inspirou uma Nação)


Um filme notável sobre Nelson Mandela, uma mensagem de coragem e resistência. A poesia foi arma e âncora.


Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.


Invictus (trad.)


De dentro da noite que me cobre,
Negra como a cova, de ponta a ponta,
Agradeço a quaisquer deuses que sejam,
Pela minha alma inconquistável.

Na cruel garra da situação,
Não estremeci, nem gritei alto.
Sob a pancada do acaso,
A minha cabeça está ensanguentada,
Mas não curvada.

Além deste lugar de ira e lágrimas
Agiganta-se apenas o Horror das sombras.
E apesar da ameaça dos anos,
Encontra-me, e me encontrará sem medo.

Não importa como é estreita a porta,
Quanto carregada de punições a lista,
Sou o senhor do meu destino:
Sou o capitão da minha alma.

(Depois de não ficar satisfeito com as traduções que encontrei na net acrescentei alterações ao que encontrei. Mas o que conta é o poema original de Henley escrito na dor, com determinação e coragem no hospital. Este poema foi escrito em 1875.)

sábado, 18 de setembro de 2010

Elegia



Nem os dias longos me separam da tua imagem.
Abro-a no espelho de um céu monótono, ou
deixo que a tarde a prolongue no tédio dos
horizontes. O perfil cinzento da montanha,
para norte, e a linha azul do mar, a sul,
dão-lhe a moldura cujo centro se esvazia
quando, ao dizer o teu nome, a realidade do
som apaga a ilusão de um rosto. Então, desejo
o silêncio para que dele possas renascer,
sombra, e dessa presença possa abstrair a
tua memória.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

o telescópio


Magritte "o telescópio" 1963


discordo da verdade inútil que une as plurisuperfícies
onde as ondas se animam de reversos e impossibilidades
sempre iguais iguais na negação do amor.

ao tactear as nervuras opostas das folhas luminosas
sei de todas as dificuldades no caminho de glórias
ou precipício, na simbologia urgente dos alimentos;
sucos nutrientes, oxigénios e combustões lentas
a fotosíntese e os negativos de esqueletos brancos.

sei de todas as exigências, excessos de arte e génio
sem lugar a técnicas ambulantes.
desta forma admito as nuvens e as chuvas
o arranhão e a fractura, o flagelo agudo, a noite e a lua
esta fragilidade, mútua e indisfarçável.

plantar, plantar um jacarandá num jardim qualquer
onde haja um banco de tábuas gastas gastas
uma esplanada sobre a tardia inocência e o crescimento
de uma árvore de leveza; flores ténues, folhas brandas

e dois olhares redondos de permanência
como as pombas

de pés vermelhos quando pousam –

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Morri pela Beleza





Morri pela Beleza – mas mal estava
Ajustada no Túmulo
Um Outro que morreu pela Verdade,
E jazia no Quarto adjacente –

Me disse docemente «Porque morrera eu»?
«Pela Beleza», respondi –
«Pela Verdade – eu – que Ambas O Mesmo são – »
Disse Ele «Então somos Irmãos» –

E tal como Parentes se encontram numa Noite –
Assim falámos de Quarto para Quarto –
Até que o Musgo nos chegou aos lábios –
Cobrindo – os nossos nomes –

Emily Dickinson Trad. Ana Luísa Amaral "Cem poemas" Relógio d´Água

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I died for Beauty – but was scarce
Adjusted in the Tomb
When One who died for Truth, was lain
In a adjoining Room –

He questioned softly “ Why I failed”?
“For Beauty”, I replied –
“ And I – for Truth – Themself are One
We Brethen, are”, He said –

And so, as Kinsmen , met a Night –
We talked between the Rooms –
Until the Moss had reached our lips –
And covered up – our names –

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

lembro-me bem



lembro-me bem de ti no hotel de paris.
a avenida larga repleta de almas
as doces palavras, as mãos dadas
o casaco apertado, a cor do frio
no fumo branco do cigarro.

a japonesa de ar pequeno
a boina, o cabelo negro, o laço magro
os lábios excessivos de um rouge lascivo
os laivos de perfume que subiam.
reparaste no olhar, na mão segura
as calças de pirata sem navio
as sabrinas e disseste
"não é vénus de urbino mas olympia"
e rimos ao entrar na pizzaria.
o tinto "rufino" os copos de pé alto -

"marlboro" a marca de um couro duro
no quarto, descomposto abandonado sem corpo
no reflexo do espelho no qual nos revejo.

sem fumo o telhado cinza, lousa sem giz
e tantas frases soltas que pousavam
e subiam sem raiz, livres e céleres
nos ecos de paris.
lembro-me bem de ti

e dela na avenida
a atitude longa da limousine
alguém de fama;
a sombra da boina, a luva branca
a última sabrina. a pergunta
o navio -

lembro-me bem de ti naquele dia
e dela -

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Notícias do Inferno





A questão é o trânsito sempre caótico nas vias principais do inferno. Só de helicóptero poderia cortar os membros supérfluos dos anjos e viajar até ti, que estás no céu de quarentena, tão descalça quanto aborrecida de tantos monossílabos ideais e sufocantes carícias.

Não fosse este pequeno pormenor e as distâncias inabaláveis que ainda pesam sobre as duas estâncias fixas - nós, dir-te-ia que há um lugar no purgatório, totalmente patrocinado pelo mal implícito, onde a clandestinidade está vestida de branco e os rumores de bom sexo e melhor asilo já chegaram, inclusive, às portas do paraíso, ainda que deturpados pela vulgar consciência de quem os repele por rivalidade, diferente cor política, ou apenas enquanto gesto reactivo,
como a virgindade velha da inveja camuflada de sermão.

E abolindo a pertinácia desses pormenores, a minha proposta é a de que nos encontremos precisamente neste sítio. Afinal, no inferno as distâncias não estão assim tão doentes que não possam – como no paraíso – não existir, e há bem pouco tempo foi inaugurada uma auto-estrada (que ainda carece de limites) entre o Inferno e o Céu, passando precisamente por essa área de infracção aberta
24h por dia,
para quem, como tu e como eu,
precisa muito de voltar a sofrer
lesões e orquídeas.

Wild nights







Wild Nights – Wild Nights!
Were I with thee
Wild Nights should be
Our luxury!

Futile – the winds –
To a heart in port –
Done with the compass –
Done with the chart!

Rowing in Eden –
Ah, the sea!
Might I moor – Tonight –
In thee!


Noites Bravias - Noites Bravias!
Estivesse eu contigo
Tais Noites o nosso
Deleite seriam!

Fúteis - os Ventos -
A Coração em porto -
Inútil a Bússola -
Como o Mapa inútil!

Remando em Éden -
Ah, o Mar!
E eu ancorar - Esta Noite -
Em Ti!

Emily Dickinson "Cem Poemas" Relógio d´Água 2010
Trad. Ana Luísa Amaral

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

o dia seguinte - 12 de setembro


Meca


um fim de férias desigual
na predominância de areias e mar.
de um descuido no gesto rígido
a inclinação de uma vara a estalar
a cedência de um disco na coluna
a dor aguda
a hérnia adulta.

no leito enfermo e branco
a pressão pasmada do silêncio
a sombra da lua.
o intruso surge e de súbito
o ruído voador de um insecto
mosca ou mosquito, o perigo
de um pousar lento
e a alteração do estado imóvel
incómodo ao menor movimento
o nervo o nervo
e o insecto que voa de asas indiferentes
em duplo looping de encontro à parede
à parte detrás da mesa
que suporta o candeeiro.
sente-se o medo.

há nove anos no canto superior esquerdo de uma sala
a seta obrigatória de um lugar sagrado – Meca
a inocência de muita gente e a crença
os muitos peregrinos e a viagem
o aspecto simbólico dos personagens;
toalhas de banho de roda do corpo
os pés descalços e os panos de quadrados
são tantos são tantos

há nove anos longe da terra
formigas escuras substituem os pilotos
cegam todos os discernimentos
orientam as asas nos milhares de casulos
janelas de aços e cimentos
e a fusão apesar dos amiantos.

a derrocada dos extremos
o fumo breve das poeiras
o ruído incrédulo das sirenes
caíram as torres gémeas.

no dia seguinte é mais negro o mistério
a contagem crescente das almas que descem
ao ground zero

no dia seguinte não se compreende a queda do império
e muito menos a alegria dos loucos que dançam
como se alguém tivesse o direito de ordenar a morte
de um homem, uma mulher, uma criança
o sacrifício no fogo de um bombeiro.

12 de Setembro no dia seguinte
depois do primeiro de Obama
o presidente negro
o enfermo no leito branco imóvel pensa
e sente um insecto enorme
dentro da cabeça

e a pergunta:
onde está aquele homem de barbas pontiagudas
perseguido de três mil almas
e os seus gritos de inocência
que nenhuma religião justifica?

sábado, 11 de setembro de 2010

estilos

uma baleia não tem estilo. o mar precisa de um toque de pescoço abandonado como o lábio precisa do fumo de uma página e o estado lateral da coxa de um traço alto carregado. não pode ser água a correr, só uma estreita película de margem que alinha postiça ligeiramente ao lado do desenho. o estilo é o oposto de um rio. um quadro urbano que oscila drogado. pode ser uma mão aberta se for lançada em pedra dramática e o século lhe cair bem mas nunca uma linha espontânea de bicho a escorrer gordura no equador. uma carruagem de metro, sem olhos lá dentro, só flash e cabelos parados, ora digitais ora retro milenares a lembrar o design inatingível das árvores. o prego do quadro range à noite e o som faz lembrar o do esguicho de uma baleia que se aproxima. baleias gordas, velhas, de bata branca e papel de rascunho para pintar maiorias. às vezes o estilo espreita e vê quadros a baloiçar, o vento e os pregos, e cose-se, com uma linha de detalhe, pelo céu da boca, pela espinha do meio das pernas à cara à nuca e um nó. o nó de uma linha individual lançada precariamente ao mar para suster o sublime estrondo da baleia.

primeiro poema

dei-te uns dados de papel para te divertires com a tua ciência. queria dar-te uma história que te ouvisse e e não fugisse quando a abraças mas não calhou. calhaste tu, um riso a quebrar o universo. se soubesses como te amo a ti e aos teus montinhos de plasticina. queria apanhar todo o olhar que deixaste escorregar. como poderia ter imaginado olhos? enfeitei-te com música e se pudesse dava-te uma árvore mais simples. não podia prever que te irias dividir. milhões de olhos para fora unidos dois a dois. desculpa a criação ser tão espontânea. pensei que te deixasses ir ao calor da tua estrela, dei-te um espaço calmo que te ajudasse a expandir. porque foste dividir, como te lembraste de contar se eras infinito? as outras formas à tua volta, não foram experiências anteriores, são variedade de ti para amares quando sentires saudade. desculpa-me o tempo meu amor. quis dar-te mares, estrelas e corações a pulsar em vez de lagos parados. precisei do tempo para o movimento. como pudeste pensar que te mataria? vi os teus deuses e o teu hábito infinito, a tua luta, e quero morrer contigo sempre que uma parte de ti julga que vai morrer. mas não podia mostrar-te a dor de uma eternidade suspensa. tenho visto os teus padrões e como vais começando a abraçar-te entre ti. cada dia que passa sei que descobres uma nova ligação e os teus olhos já rodam ligeiramente para dentro. choro muito sempre que falas em mim, mesmo que seja por acaso, numa daquelas tuas variáveis aleatórias assustadas. nunca me hei-de esquecer da mecânica quântica meu amor. foi o teu primeiro poema.

O estilo



Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio... Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro... Está a ver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida... compreende?... a nossa vida, a vida inteira, está ali como... como um acontecimento excessivo... Tem de se arrumar muito depressa. Há felizmente o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é um modo subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum, suponhamos, do Amor ou da Morte. Percebe? Uma dessas abstracções que servem para tudo. O cigarro consome-se, não é?, a calma volta. Mas pode imaginar o que seja isto todas as noites, durante semanas ou meses ou anos?

Herberto Helder " Os passos em volta"

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Até amanhã


Gustav Klimt "Danae" 1908


Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

AFOGAMENTOS

Como gostaria
de penetrar a densa espuma,
enfrentar ondas traiçoeiras
e insidiosas brumas
desenhando tenebrosos castelos
longe lá longe no mar,
e salvar vultos amistosos,
traze-los a porto seguro,
estável e cúmplice.
... Mas algo me diz
que lá chegaria
e que nenhum amigo
conseguiria salvar!...
...........................................
A amizade esfuma-se
e afunda-se literalmente,
entre os dedos negros de mãos
laxas e escorregadias,
tão exaustas de combater!

( Antonio Luíz, "Poesia pragmática: poemas de Vidas",
a editar em 2010 ( 06-09-2010)

O OLHAR DE SOFIA

Olhas tranquila o infinito,
com um olhar pleno de 6 meses;
olhos lindos
verdes, azuis ou castanhos (?).
Que importa que cor seja
se são tão ternos e doces
cheios de luz e sumptuosidade ?!
Perscrutas subtil o infinito
de olhos esbugalhados
imperturbáveis,
mas que tanto me perturbam
pois não consigo decifrar
ou no mínimo alhear-me
do Teu tão enigmático olhar...

...Sofia, verás a natureza
linda e grandiosa como Teu olhar,
ser acariciada e respeitada
com seus voluptuosos rios,
montanhas e vales verdejantes,
crescendo como Tu
ao sabor de mimosa e silenciosa chuva?

...Sofia, verás o mar sem grude
com seres vivos brincalhões
e não cativeiros de lamas e pestes,
que lhes atraiçoam a vida
e vão matando a descendência
na alegria de seus abrigos?

...Sofia, verás o azul celeste
sem máculas mas ozono suficiente,
sem desenlaces aeronáuticos
e sem tempestades desmedidas,
que Te podem um dia maltratar,
e roubar Teu angelical sorriso
que é já p'ra nós motor vital?

...Sofia, ou verás apenas raios de sol
imaculados, sem penumbras,
banhando nossos sentimentos
e nossos lagos sistémicos,
ou tristes desertos cerebrais,
ávidos de emoções e criatividade?

...Sofia, ou verás revelações de confiança
ou estandartes de novas esperanças
atingindo as Novas Gerações,
que Te irão oferecer um mundo
bem diferente e jovial,
honesto, credível e humano?
....................................................
Ainda não me falas Sofia,
mas creio ser esta "boa alucinação"
que Teu olhar doce e penetrante
tanto saboreia e Te delicia!

Um dia contar-me-às o Teu segredo!...

(Antonio Luíz, in "Poesia pragmática: poemas de Vidas" -
texto poético dedicado a minha neta ( 03-09-2010).

o lugar pálido do grito - Casa Pia


Novos alunos da Casa Pia 1981


pálido lugar cru no ondear ambíguo
de anos e anos indecisos
náusea de danos e vítimas
no palco irreversível

nunca os males justificam os circos
os dentes das feras
os comentários vácuos dos públicos

quanto maior o ruído de nozes ocas
menos se acredita
como foi possível o silêncio
a morte lenta dos dias em milhares
em milhares de crimes na Casa Pia

justiça justiça
se necessário prenda-se a mentira
advogados e juízes
que sofram e permitam o descanso
de um país fraco e frágil
que permitiu a ignomínia

que se ouça por todo o lado
o maior castigo dos culpados
dos que permanecem escondidos
dos Pilatos dos políticos

justiça! justiça!
nunca
nunca ninguém mais cale o grito
justiça! justiça!

invisível




a areia morna e o salitre
a mensagem branca ilegível
sal de brilho
mar largo

indivisível da pele a gota fluida
uma gota duas gotas
e o destino sinuoso que espalha
diluindo
a mensagem invisível

terça-feira, 7 de setembro de 2010

rememorar


Miró " Amanhecer perfumado por um duche de ouro" 1954

Não são as mesmas as mesmas
As estrelas avulsas as estrelas
As constelações
As constelações
Depois de rememorar rememorar rememorar
O amanhecer lento e branco.
As primeiras gotas de orvalho.
Há quanto tempo. Há quanto tempo.

Em anteriores e interiores horas
A paisagem de tonalidade parda
Os restos cortados de cereais
Um largo horizonte no sul da auto-estrada
Árvores pousadas árvores pousadas
Presentes presentes a espaços a espaços
Passado passado.

A corda tracejada de branco
O sólido breu a esconder quilómetros
Afastando a lonjura de um mar salgado
Que não encontra a forma de ser leve
- a suspensa bóia de risca encarnada.

Perpassa a memória
A existência de uma tarde longínqua
Um jardim maior de flores fúcsia
Alguns arbustos e dois cedros incisivos
Esguios e aguçados como setas
Densos como o cérebro dos poetas
Que falam da condição universal dos afectos
A humana lágrima sensível.

Não são os mesmos
Os desejos e as estrelas
Que vigiam a noite
Não são os mesmos

Amanhece a sombra nos espelhos
De abraços desfeitos na fogueira de um delírio -

domingo, 5 de setembro de 2010

"Letra" de música (Marisa Monte e Julieta Venegas)

Ilusión

Uma vez eu tive uma ilusão
E não soube o que fazer
Não soube o que fazer
Com ela
Não soube o que fazer
E ela se foi
Porque eu a deixei
Por que eu a deixei?
Não sei
Eu só sei que ela se foi

Mi corazón desde entonces
La llora diario
No portão
Por ella
No supe que hacer
Y se me fue
Porque la deje
¿Por que la deje?
No sé
Solo sé que se me fue

Sei que tudo o que eu queria
Deixei tudo o que eu queria
Porque não me deixei tentar
Vivê-la feliz

É a ilusão de que volte
O que me faça feliz
Faça viver
Por ella no supe que hacer
Y se me fue
Porque la deje
¿Por que la deje?
No sé
Solo sé que se me fue

Sei que tudo o que eu queria
Deixei tudo o que eu queria
Porque não me deixei tentar
Vivê-la feliz
Sei que tudo o que eu queria
Deixei tudo o que eu queria
Porque no me dejo
Tratar de hacerla feliz

Porque la deje
¿Por que la deje?
No sé
Solo sé que se me fue

sábado, 4 de setembro de 2010

Vaga insígnia

dançam folhas
brilhos reflexos
folhas arvoradas

buscados prazeres, buliu o corpo
incessantes contrastes

sombra fez-se presente
não só do corpo, feita surpresa

em involuntário momento
murmúrio incontrolável
nome

quando poder não se podia
mas que se repete, tristeza!E
com a mesma força, chorasse